- Check my paranoia -

sábado, abril 20, 2002

Na época da ditadura quando uma reportagem no jornal era censurada, os editores colocavam uma poesia ou uma receita no lugar.
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comunicação

Sublimar todos os sentidos,
Buscar na essência escrita a verdadeira face dos dados.
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Se. (um poema negação)

Se soubéssemos as respostas,
se os sentimentos fossem nulos,
se a vida fosse certa como a passada de um relógio,
se não nos afogássemos nas pequenas poças,
se eu fosse tão real quanto você,
faria um poema negando tudo isso.
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palavras - punhais

fui apunhalado por meus versos.
palavras traidoras, vis
que vieram com o sorriso estampado
e uma verdade projetada no fundo dos olhos.
não percebi.

e quando estas vieram me acalentar em meu leito

flagrei-as...
balbuciando verdades para meu corpo moribundo.
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Bolo de Leite Quente (Chocolate)
Ingredientes:
4 ovos
2 xícaras de açúcar
2 xícaras de farinha
1 copo de leite
1 copo de Nescau
½ copo de óleo
1 colher rasa (sopa) de fermento em pó
Modo de Fazer:
Bater as claras em neve e colocar as gemas uma por uma, depois o açúcar aos poucos.
Colocar a farinha alternando com o leite morno, e o óleo e o fermento.
Levar ao forno quente.
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bits

bits.
pequenos pedaços de informações,
pequenas pessoas em pedaços,
pequenos pedaços de pessoas,
pequenas informações em pedaços,
pedaços de pessoas em pequenas informações.
a pequena célula de nosso mundo digital.
bits
nossos novos átomos.
para nosso novo mundo-inconsistente.
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cães

Cães latem,
mergulham em mim,
tingem o meu rubro sangue
com as cores tímidas do arco-íris.
Os latidos ecoam madrugada adentro.
Recuo, recluso, sinto o amargor do dia levitar...
Não consigo evitar a explosão de sentimentos
que dilaceram o meu corpo.

os cães correm atrás de qualquer osso.
eu fujo...
mas minha sombra fica.
cães como esses nem percebem a diferença.
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travesseiro

a vida que me proporcionaram, às vezes, me instiga cócegas,
a mansa estrada do tempo percorre lentamente o meu caminho...
existo, mas permaneço eternamente imóvel a acolchoar o sonho humano
e a vigiar o sono de uma estrela viva,
sou e sou somente para poder acalentá-la em meu corpo.

não posso me mover muito,
mas são raras as ocasiões em que gostaria de ser capaz de;
me sinto ainda mais vivo quando estou imóvel, quieto,
quando ela me sufoca com um abraço forte e quase não consigo respirar...

vivo o dia a esperar a noite,
a esperar que ela venha repousar e,
quem sabe,
sussurrar levemente suas preocupações,
como se desenrolasse um novelo
e descobrisse que o fio é infinito...

às vezes tento estender meu tecido para beijá-la suavemente,
mas não desejo acordá-la, ou assustá-la revelando-me vivo,
“o mundo...?”
“é sempre aquela eterna surpresa...” – lhe diria se você descobrisse que não sou apenas um objeto inanimado,
e lhe beijaria, enquanto saia voando pela janela...
penso, tenho planos, mas guardo tudo isso comigo,
acredito na sina e no pecado de todos os travesseiros.
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Eu blefo,
Atento contra os pequenos milagres desta curta vida.
Mas tenho sempre um ás na manga,
guardo um sorriso por trás de cada carta
e a certeza própria,
aguardente
que precede a aposta.